Sentir-se preso no nível intermediário é um problema comum entre os estudantes de línguas estrangeiras, e a frustração pode até levar alguns a desistirem da fluência. Felizmente, com certos ajustes na forma de estudar e muita disciplina, é sempre possível alcançar o próximo nível do idioma, então vamos descrever neste artigo três passos para construir uma boa rotina de estudos e finalmente chegar nos níveis avançados de inglês.
1. Usar material adequado para objetivos claros
Primeiramente, não adiantará criar um cronograma detalhado para seus estudos, se o material que você está usando não for adequado, ou seja, se não estiver lhe desafiando na medida certa para lhe tirar do nível intermediário. Antes de pensar na rotina em si, é importante fazer uma reflexão sobre todos os recursos que você vem utilizando para estudar, avaliando as capacidades e limitações de cada um, para seguir somente com os que trazem os melhores resultados, e é indispensável que você dedique tempo para pesquisar e adquirir novas formas de aprender.
Igualmente, é crucial ter clareza do que significa, na prática, o nível avançado que deseja dominar: significa, de modo geral, ser capaz de conduzir uma conversa simples em língua inglesa por escrito e oralmente, conhecer todos os tempos verbais incluindo conjugações irregulares, dominar um amplo vocabulário e compreender as regras gramaticais do idioma o suficiente para criar frases complexas espontaneamente, além de ser capaz de pronunciar corretamente todos os fonemas característicos do inglês.
Por exemplo, plataformas digitais como o Duolingo e o Rosetta Stone podem ser muito úteis, e muitas vezes levam estudantes autodidatas do nível básico ao intermediário relativamente rápido, contudo, elas não são adequadas para levar ao avançado, não proporcionam um aprendizado com a mesma profundidade que uma aula criada de forma personalizada com materiais diversos: livros didáticos, vídeos, publicações em jornais e revistas, etc. Para sair do nível intermediário, o estudante deve ter contato com uma variedade mais ampla de materiais do que tinha antes, e buscar oportunidades para treinar a compreensão e a expressão com outros estudantes ou falantes nativos de inglês.
Existem infinitas possibilidades de adaptação do material, inclusive para quem não pode fazer aulas – o que muda é que, para os autodidatas, a pesquisa e seleção de materiais é parte crucial do processo de aprendizagem, e portanto deve estar inclusa no cronograma. Recomendamos, aliás, que autodidatas comprem livros didáticos, se puderem. Ao mesmo tempo, aqueles que fazem aulas também se beneficiam muito de adaptar suas rotinas para incluir uma maior variedade de conteúdos em inglês. Ao abandonar determinadas ferramentas e incorporar novas formas de aprender, suas facilidades e dificuldades particulares devem lhe guiar para personalizar ao máximo seu processo.
No caso de quem gosta de trabalhar com filmes e séries, um exemplo de material que pode fazer diferença é um assistente de idiomas para streaming. Estão disponíveis diversos aplicativos e extensões que agem em plataformas como Netflix e YouTube, fazendo aparecer legendas bilíngues, ideal para quem ainda não domina inglês o suficiente para acompanhar legendas somente em inglês.
Selecione conteúdos de assuntos variados entre si para fazerem parte de suas sessões de estudo. Por exemplo, escolha séries de temáticas muito diferentes entre elas para alternar os episódios e, assim, variar o tipo de vocabulário com que terá contato.
Lembre-se que um material adequado será desafiador por apresentar palavras novas, ou lhe fazer pensar em assuntos com os quais você não teve muito contato ainda em inglês, e não por ser praticamente impossível para alguém no seu nível. É exatamente por este motivo que a legenda bilíngue combina com alguém no intermediário: ela vai auxiliar o estudante a se acostumar com ler legendas em inglês, ao mesmo tempo em que não torna o conteúdo difícil de compreender, para que, no momento em que alcançar um nível mais avançado, possa então abandonar a legenda em português e mantê-la somente em inglês. Incorporar um objetivo como este na sua rotina, em que o contato com um tipo de material é planejado para ser constante até o momento em que não será mais necessário, tornará mais perceptível seu próprio avanço.
2. Começar a viver em imersão
Sua rotina pode ser adaptada em vários sentidos: não somente ajustando o tempo voltado aos estudos, mas também ajustando outros aspectos do cotidiano para introduzir inglês nos momentos em que, antes, você não estaria estudando.
Troque o idioma nas configurações de todos os aparelhos e aplicativos que você usa no dia-a-dia: o sistema do seu smartphone, sua conta do Instagram, o menu do Netflix, enfim, todos os textos que costuma ler todos os dias devem estar em inglês.
Aos poucos, você irá perceber como se lembra mais facilmente do vocabulário relacionado aos aparelhos digitais. Também notará como está sempre aprendendo novos termos, dependendo do que está sendo sugerido pelo algoritmo, entre outros benefícios.
Caso você ainda não costume consumir conteúdos criados por falantes nativos de inglês, esta é a hora de começar. Músicas, filmes, vídeos no YouTube, jornais, podcasts, apresentações de stand-up comedy ou páginas nas redes sociais, qualquer que seja sua preferência de entretenimento, que seja sempre em inglês. Independente de conter legendas somente em português, o contato em si neste hábito diário de ouvir nativos falando é um passo indispensável para quem quer ser fluente.
Ao mesmo tempo, para sair do intermediário é fundamental testar sua capacidade de se comunicar com outras pessoas, em especial falantes nativos, mas não exclusivamente. Há diversos sites e aplicativos de intercâmbio de idiomas que podem lhe ajudar a encontrar um parceiro de estudos ou professor particular estrangeiro. Perca a vergonha e peça para algum amigo brasileiro que já sabe falar inglês lhe ajudar com alguns minutos de conversação quando vocês estiverem juntos, ou então combine com esta pessoa que todas as mensagens que trocarem no WhatsApp devem ser em inglês.
Este contato constante cria uma espécie de imersão. Não se iguala à imersão de ir passar um tempo em um país anglófono, mas é essencialmente o mesmo conceito: ter o máximo de contato possível com a língua, aprender por repetição e necessidade, e testar o próprio conhecimento com frequência.
A ideia de imersão no idioma todos os dias e a qualquer momento também diminui o peso que costumamos colocar em nós mesmos para que as sessões de estudos tenham um rendimento alto. Estudar da forma clássica, com livro didático e exercícios, sempre será bom, mas rende muito mais quando se vive em imersão no idioma, ao invés de só ter contato com inglês quando se abre o livro para estudar.
3. Manter a disciplina da rotina planejada
Mesmo que não possua muito tempo disponível para estudar, um contato diário de no mínimo 30 minutos com algum conteúdo em inglês é uma meta relativamente fácil de atingir, pois pode ser assistir a um episódio de uma série com legenda bilíngue no fim do dia, ou logo pela manhã, durante o café, ou durante o almoço.
Ao mesmo tempo, se você dedicar somente o mínimo de tempo diariamente, irá demorar muito para aprender. A maneira mais efetiva de avançar rápido é se comprometer a estudar o máximo possível, e seguir uma rotina fixa do que foi planejado, com disciplina.
Este é um desafio maior para quem é autodidata, pois, quando se tem horários fixos de aulas particulares ou em uma escola, o estudante acaba planejando sua rotina em torno desse compromisso. Especialmente, o autodidata que se sente preso no intermediário precisa ainda mais de atenção ao cumprimento de um cronograma estável, que garanta o contato constante com o inglês da vida real, e o impulsione novamente.
Utilizando material adequado, e buscando o contato que lhe aproxima do que seria viver em imersão no idioma, o terceiro passo é manter a disciplina e não abandonar nenhum dos meios com os quais está estudando, pois é a somatória deles que fortifica sua nova rotina rumo à fluência.
Na tabela abaixo, vamos apresentar um exemplo de cronograma semanal para um estudante autônomo que quer sair do intermediário. Lembre-se que esta é apenas uma sugestão, e o ideal é que cada um consolide um planejamento sob medida.
Digamos que você decidiu assistir um episódio de uma série com legenda bilíngue ou ouvir músicas lendo suas letras e traduções todos os dias. Para além desse contato diário fixo, você pode, três vezes por semana, sempre às segundas, quartas e sextas, dedicar duas horas do dia para trabalhar com materiais didáticos, treinando semanalmente suas capacidades em speaking, reading, listening e writing. Quanto mais variado for o tipo de material e os assuntos abordados, melhor.
EXEMPLO DE ROTINA DE AUTODIDATA DO NÍVEL INTERMEDIÁRIO
segunda | terça | quarta | quinta | sexta | final de semana | ||
dia | → 30 min. de músicas em inglês lendo as letras → sessão 2h para ler texto em inglês e escrever um resumo | → anotar 50 palavras e descrever seu significado (explicação em inglês) ligadas ao assunto do texto da semana | → sessão 2h para ler uma lição de livro e fazer exercícios didáticos variados | → bate-papo com falante nativo de inglês em app de intercâmbio | → sessão 2h para ler uma lição de livro e fazer exercícios didáticos variados | → assistir a um filme em inglês com legenda bilíngue ou somente em português → 1h de músicas em inglês lendo as letras e pesquisando frases com as palavras novas → escolher o tema da semana que vem e preparar material | |
noite | → episódio de série com legenda bilíngue | → episódio de série com legenda bilíngue | → 30 min. de músicas em inglês lendo as letras | → vídeos no YouTube relacionados ao tema da semana com legenda bilíngue | → episódio de série com legenda bilíngue |
(Arantxa Pellicer Meira) é graduada em Cinema pela Universidade Federal de Santa Catarina e trabalhou como tradutora e professora de Inglês de 2017 a 2021