Posso dar aulas com nível B2?

O Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (ou Common European Framework of Reference, conhecido pela sigla CEFR) divide os graus de domínio de um idioma estrangeiro em A1, A2, B1, B2, C1 e C2, sendo A referente aos níveis inicial e básico, B referente aos intermediários, e C ao avançado e ao fluente.

Caso seu inglês seja Intermediário B2 e você queira dar aulas, pode estar em dúvida se seu nível de conhecimento já é suficiente para que possa iniciar sua carreira como professor(a) de inglês.

O quanto alguém deve dominar o idioma para ser capaz de ensiná-lo ou usá-lo para ensinar outros assuntos é uma questão em debate entre cientistas e professores, e vamos analisar neste artigo quais são os argumentos defendidos em ambos os casos: ao afirmar que o nível B2 permite dar aulas, e ao afirmar que ele é insuficiente.

Há um importante estudo que afirma ser possível ter nível B2 e dar aulas em inglês, mas não se tratam de aulas de inglês

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Paraná (UFPR) sob a liderança do professor Ron Martinez concluiu que o nível de proficiência B2 é suficiente para ministrar aulas em inglês sobre assuntos que o professor já domina no idioma nativo. 

No contexto de internacionalização do ensino, o nível intermediário de inglês é adequado ao contexto brasileiro e latino-americano, ou seja, o conhecimento sobre o assunto específico e a didática do professor se tornam fatores mais importantes do que a fluência na língua em si na hora de ensinar brasileiros com materiais em inglês, segundo o pesquisador.

Tal resultado científico gera confusão com frequência, e acaba sendo interpretado de forma equivocada, levando algumas pessoas a dizer que alguém neste nível de conhecimento pode dar aulas de inglês.

Considerando a necessidade de incentivos para o ensino e o aprendizado de inglês no Brasil, quem acredita que B2 é onde alguém se torna fluente o suficiente para ensinar costuma levar em consideração que restringir demais quem as instituições podem contratar pode prejudicar o acesso ao ensino de inglês no país.

Em contrapartida, vale lembrar que muitas das instituições estrangeiras de países não-anglófonos exigem proficiência avançada.

A vantagem para elas ao fazer isto é garantir que o ensino de inglês lá seja padronizado e sempre de altíssima qualidade.

Por mais que existam alguns argumentos para enfatizar a proposta de que o B2 capacita alguém a dar aulas de inglês, é importante manter em mente que não existem estudos científicos que apontem tal possibilidade e justifiquem estes raciocínios.


O mercado de trabalho provavelmente vai dizer que não

Para começar a dar aulas em um curso de inglês não é necessário um diploma de Tradução, Interpretação, Letras, ou outro curso voltado para linguagem.

Na verdade, em boa parte das escolas de idiomas não é nem mesmo necessário ter completado o ensino superior para começar a trabalhar, somente comprovar proficiência no idioma que se pretende ensinar.

Naturalmente, dar aulas de inglês se tornou uma forma relativamente comum para estudantes universitários que dominam idiomas estrangeiros completarem sua renda ou trabalharem contornando horários irregulares da faculdade.

Exames oficias como TOEFL, IELTS e Cambridge são reconhecidos internacionalmente e comprovam a proficiência no inglês também para cargos em escolas de idiomas mais exigentes no Brasil.

Escolas renomadas, como a Cultura Inglesa, possuem um padrão de qualidade mais elevado que muitas outras: lá, a maioria dos profissionais possuem o curso de Letras, Tradução, Interpretação ou similar em seu currículo.

Quadro mostra uma jovem segurando um dicionário de inglês

Quando não são formados em cursos voltados para área da linguagem, no mínimo possuem um certificado oficial de nível C1 ou C2 dos testes oficiais mencionados.

Contudo, há uma grande diversidade de formas de se tornar um profissional do ensino de inglês, e nem sempre haverá uma exigência de conhecimento avançado.

Conseguir um emprego ou alunos particulares para ensinar inglês não é impossível para alguém no nível intermediário, mas ser fluente com certeza amplia as opções de vagas e é um grande atrativo de alunos particulares.

Caso você esteja na dúvida se já tem a capacidade necessária para um cargo específico, é importante fazer uma reflexão com bastante auto-crítica e responsabilidade.

Se tratando de um trabalho onde o ensino de inglês será superficial, é possível que você consiga ministrar as atividades sem problemas.

Contudo, para assumir uma posição que envolve não somente dar aulas, mas também tirar dúvidas de alunos e frequentemente comunicar-se no idioma, de fato não será possível.

O mercado de trabalho no Brasil para quem ensina o idioma é muito amplo e está em ascensão.

A média do salário de profissionais em regime CLT nesta categoria é de cerca de R$ 3.400,00 e a cidade brasileira que mais contrata e oferece vagas na área é São Paulo.

Atualmente, a demanda e a oferta de força de trabalho no ensino de inglês estão equilibradas e, considerando esta não-saturação, haverá espaço para profissionais de todos os tipos ocuparem cargos de todos os tipos.

Este cenário torna relativamente frequente que, por exemplo, quem atue como auxiliar em uma escola livre de idiomas com baixo padrão de qualidade não possua conhecimento avançado ainda e, portanto, receba um salário abaixo da média da categoria.

Quanto melhor for o ensino e o aprendizado de inglês no país, a tendência é que a empregabilidade de pessoas não-fluentes diminua.

Da mesma forma, quanto maior for o acesso ao ensino superior e o contato com idiomas estrangeiros no Brasil, menor será o número de vagas ocupadas por pessoas com nível intermediário de inglês.

E esta lógica se aplica também aos empregos onde é necessário ensinar somente de forma superficial.

Possíveis conclusões

Dependendo da sua formação, soará um pouco injusto ou muito estimulante o fato de que autodidatas em inglês sem diploma universitário que conseguem comprovar fluência com testes padronizados reconhecidos internacionalmente são igualmente contratados como prestadores de serviço autônomos, ou para vagas em escolas livres de idiomas e outras instituições, em comparação com pessoas formadas em cursos superiores relacionados à linguagem.

Sob um ponto de vista, se alguém com nível B2 tiver muito talento para dar aulas, esta pessoa brasileira, por exemplo, provavelmente conseguirá ensinar alunos do A1 ao B1 de sua mesma nacionalidade, apesar de eventualmente sentir dificuldade e insegurança ao fazê-lo.

Inclusive, existem atualmente vagas no mercado para o ensino de crianças iniciantes através de atividades de recreação, por exemplo, que exigem comprovação de nível acima do B2, entre outras vagas de exigência similar.

Por outro lado, o professor ainda no intermediário não consegue dar o exemplo na prática de como é ser fluente.

Tentar acompanhar quem é fluente ajuda muito a aprender, então sempre haverá uma maior demanda por professores que dominam totalmente o inglês.

Ensinar é uma grande responsabilidade, mas infelizmente existem alguns professores que afirmam saber o que não sabem, e consequentemente, ensinam errado.

Se você quer se tornar professor com nível B2, começar imediatamente pode ser uma boa ideia em determinados casos, pois este trabalho irá te impulsionar a estudar constantemente, e fará com que você se torne fluente mais rápido.

No entanto, na hora de procurar uma vaga ou desenvolver uma estratégia como profissional autônomo, aborde as situações com total honestidade e admita sempre seus próprios limites. Lembre-se de que seu crescimento pessoal e profissional não é a única coisa que importa, e outras pessoas serão impactadas negativamente caso você cometa erros. 

Com certeza é melhor que você tenha, no mínimo, nível C1 para que suas aulas sejam realmente boas, mas é possível preparar ou executar atividades que ensinam inglês com qualidade em alguns contextos mesmo tendo conhecimento intermediário.


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